quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Uso diário de aspirina não é para todo mundo, alerta estudo

  • Em pessoas sem histórico de ataque cardíaco ou derrame, o uso regular de aspirina pode ser mais nocivo que benéfico, segundo especialista
    Em pessoas sem histórico de ataque cardíaco ou derrame, o uso regular de aspirina pode ser mais nocivo que benéfico, segundo especialista

    Aproximadamente um terço dos americanos de meia idade toma uma aspirina infantil regularmente, com o intuito de prevenir um ataque cardíaco ou derrame cerebral, ou diminuir o risco de desenvolver câncer. Contudo, uma nova pesquisa demonstrou que o ácido acetilsalisílico -- a popular aspirina -- não é para todo mundo, e que esse remédio "milagroso" tem prejudicado mais que ajudado a alguns pacientes.
    "Eu prescrevo a interrupção da aspirina muito mais que sua adoção", afirmou a médica Alison Bailey, diretora do programa de reabilitação do Instituto do Coração Gill da Universidade de Kentucky. "As pessoas nem mesmo consideram a aspirina um medicamento, nem pensam que ela pode causar efeitos colaterais. Esta é a parte mais difícil do tratamento com aspirina."
    Pesquisadores londrinos relataram na semana passada ter analisado nove estudos aleatórios do uso da aspirina nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, abrangendo mais de 100 mil participantes. Os participantes nunca haviam sofrido um ataque cardíaco ou derrame, e todos tomaram aspirinas ou placebos regularmente com o intuito de determinar se o remédio traz benefícios às pessoas que não têm doenças do coração estabelecidas.
    Os pesquisadores descobriram, na análise combinada, que os consumidores regulares de aspirina estavam 10% menos propensos que os outros a sofrer todo tipo de evento cardíaco e 20% menos propensos a ter um ataque do coração não fatal. Embora isso pareça uma boa notícia, o estudo mostrou que os riscos do uso regular de aspirinas superavam os benefícios.
    Hemorragia
    Os usuários de aspirina estavam aproximadamente 30 vezes mais propensos a sofrer um evento sério de hemorragia gastrointestinal, efeito colateral do uso frequente do remédio. O risco global de morrer durante o estudo foi o mesmo entre os usuários de aspirina e os não usuários. Além disso, embora alguns estudos anteriores tenham sugerido que o consumo regular de aspirina prevenisse o câncer, a nova análise não mostrou esse benefício.
    Nas 162 pessoas que tomaram aspirina, a prática ajudou a prevenir a incidência de ataque cardíaco não fatal, mas causou cerca de dois episódios sérios de sangramento.
    "Conseguimos mostrar de maneira bastante convincente que, nas pessoas sem histórico de ataque cardíaco ou derrame, o uso regular de aspirina pode ser mais nocivo que benéfico", afirmou Sreenivasa Seshasai, do Centro de Pesquisa em Ciências Cardiovasculares da St. George's University of London.
    As descobertas provavelmente irão aumentar a confusão em relação a quais pessoas precisam tomar aspirina regularmente e quais não precisam.
    Benefícios
    Pesquisas demonstraram que, quando consumida regularmente por homens que já tiveram um ataque cardíaco, a aspirina pode salvar vidas, diminuindo os riscos de um segundo evento em 20% a 30%. A aspirina também reduz o risco de reincidência em mulheres que tiveram um derrame provocado por coágulo.
    O medicamento funciona interferindo no processo de coagulação sanguínea. Nos vasos sanguíneos estreitados pela doença cardíaca, pode ocorrer o rompimento de depósitos de gordura, levando à rápida formação de coágulos que obstruem o fluxo sanguíneo em direção ao coração e ao cérebro. Tomar uma aspirina regularmente ajuda a prevenir a formação de coágulos.
    A Agência de Pesquisa e Qualidade em Serviços de Saúde americana relatou em 2007 que 19% dos americanos tomam aspirina regularmente, incluindo 27% dos que têm entre 45 e 64 anos e cerca de metade dos que têm 65 anos ou mais.
    Contudo, muitos usuários de aspirina nunca tiveram um ataque cardíaco ou derrame, e tomam o medicamento como medida preventiva. O relatório descobriu que, entre os usuários de aspirina de meia idade, 23% não sofriam de doença cardíaca estabelecida. Entre os usuários mais velhos, 41% não possuíam histórico de doença cardíaca ou derrame.
    Caso a caso
    Para as pessoas que não sofrem de doenças cardíacas, as diretrizes da Força Tarefa de Serviços Preventivos e de outros grupos dos Estados Unidos afirmam que o tratamento com aspirinas deve ser decidido caso a caso, dependendo de fatores de risco individuais e do histórico familiar.
    Seshasai afirmou que as novas descobertas não apontam, necessariamente, que homens e mulheres saudáveis devam parar de tomar aspirina imediatamente. As pessoas com histórico familiar de ataque cardíaco ou derrame podem obter benefícios com o tratamento continuado, e devem perguntar a seus médicos sobre o assunto.
    "A decisão de tratar essas pessoas com aspirina deve ser tomada caso a caso, levando em consideração o risco provável de ataque cardíaco ou derrame no futuro", afirmou. "Contudo, como o risco de episódios de sangramento sérios aumenta na mesma proporção que os benefícios, médicos e pacientes devem ponderar cuidadosamente as opções relativas ao tratamento de longa duração."
    Contudo, para alguns especialistas, o problema consiste no fato de que nem todos os médicos estão informados em relação aos achados científicos mais recentes, e muitos pacientes decidem tomar aspirina por conta própria.
    "Ele ouvem dizer que a aspirina faz bem e passam a tomá-la", afirmou Bailey. "Não pensam no medicamento como uma substância que pode causar danos no futuro", afirmou.

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