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Em pessoas sem histórico de ataque cardíaco ou derrame, o uso regular de aspirina pode ser mais nocivo que benéfico, segundo especialistaAproximadamente um terço dos americanos de meia idade toma uma aspirina infantil regularmente, com o intuito de prevenir um ataque cardíaco ou derrame cerebral, ou diminuir o risco de desenvolver câncer. Contudo, uma nova pesquisa demonstrou que o ácido acetilsalisílico -- a popular aspirina -- não é para todo mundo, e que esse remédio "milagroso" tem prejudicado mais que ajudado a alguns pacientes."Eu prescrevo a interrupção da aspirina muito mais que sua adoção", afirmou a médica Alison Bailey, diretora do programa de reabilitação do Instituto do Coração Gill da Universidade de Kentucky. "As pessoas nem mesmo consideram a aspirina um medicamento, nem pensam que ela pode causar efeitos colaterais. Esta é a parte mais difícil do tratamento com aspirina."Pesquisadores londrinos relataram na semana passada ter analisado nove estudos aleatórios do uso da aspirina nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, abrangendo mais de 100 mil participantes. Os participantes nunca haviam sofrido um ataque cardíaco ou derrame, e todos tomaram aspirinas ou placebos regularmente com o intuito de determinar se o remédio traz benefícios às pessoas que não têm doenças do coração estabelecidas.Os pesquisadores descobriram, na análise combinada, que os consumidores regulares de aspirina estavam 10% menos propensos que os outros a sofrer todo tipo de evento cardíaco e 20% menos propensos a ter um ataque do coração não fatal. Embora isso pareça uma boa notícia, o estudo mostrou que os riscos do uso regular de aspirinas superavam os benefícios.HemorragiaOs usuários de aspirina estavam aproximadamente 30 vezes mais propensos a sofrer um evento sério de hemorragia gastrointestinal, efeito colateral do uso frequente do remédio. O risco global de morrer durante o estudo foi o mesmo entre os usuários de aspirina e os não usuários. Além disso, embora alguns estudos anteriores tenham sugerido que o consumo regular de aspirina prevenisse o câncer, a nova análise não mostrou esse benefício.Nas 162 pessoas que tomaram aspirina, a prática ajudou a prevenir a incidência de ataque cardíaco não fatal, mas causou cerca de dois episódios sérios de sangramento."Conseguimos mostrar de maneira bastante convincente que, nas pessoas sem histórico de ataque cardíaco ou derrame, o uso regular de aspirina pode ser mais nocivo que benéfico", afirmou Sreenivasa Seshasai, do Centro de Pesquisa em Ciências Cardiovasculares da St. George's University of London.As descobertas provavelmente irão aumentar a confusão em relação a quais pessoas precisam tomar aspirina regularmente e quais não precisam.BenefíciosPesquisas demonstraram que, quando consumida regularmente por homens que já tiveram um ataque cardíaco, a aspirina pode salvar vidas, diminuindo os riscos de um segundo evento em 20% a 30%. A aspirina também reduz o risco de reincidência em mulheres que tiveram um derrame provocado por coágulo.O medicamento funciona interferindo no processo de coagulação sanguínea. Nos vasos sanguíneos estreitados pela doença cardíaca, pode ocorrer o rompimento de depósitos de gordura, levando à rápida formação de coágulos que obstruem o fluxo sanguíneo em direção ao coração e ao cérebro. Tomar uma aspirina regularmente ajuda a prevenir a formação de coágulos.A Agência de Pesquisa e Qualidade em Serviços de Saúde americana relatou em 2007 que 19% dos americanos tomam aspirina regularmente, incluindo 27% dos que têm entre 45 e 64 anos e cerca de metade dos que têm 65 anos ou mais.Contudo, muitos usuários de aspirina nunca tiveram um ataque cardíaco ou derrame, e tomam o medicamento como medida preventiva. O relatório descobriu que, entre os usuários de aspirina de meia idade, 23% não sofriam de doença cardíaca estabelecida. Entre os usuários mais velhos, 41% não possuíam histórico de doença cardíaca ou derrame.Caso a casoPara as pessoas que não sofrem de doenças cardíacas, as diretrizes da Força Tarefa de Serviços Preventivos e de outros grupos dos Estados Unidos afirmam que o tratamento com aspirinas deve ser decidido caso a caso, dependendo de fatores de risco individuais e do histórico familiar.Seshasai afirmou que as novas descobertas não apontam, necessariamente, que homens e mulheres saudáveis devam parar de tomar aspirina imediatamente. As pessoas com histórico familiar de ataque cardíaco ou derrame podem obter benefícios com o tratamento continuado, e devem perguntar a seus médicos sobre o assunto."A decisão de tratar essas pessoas com aspirina deve ser tomada caso a caso, levando em consideração o risco provável de ataque cardíaco ou derrame no futuro", afirmou. "Contudo, como o risco de episódios de sangramento sérios aumenta na mesma proporção que os benefícios, médicos e pacientes devem ponderar cuidadosamente as opções relativas ao tratamento de longa duração."Contudo, para alguns especialistas, o problema consiste no fato de que nem todos os médicos estão informados em relação aos achados científicos mais recentes, e muitos pacientes decidem tomar aspirina por conta própria."Ele ouvem dizer que a aspirina faz bem e passam a tomá-la", afirmou Bailey. "Não pensam no medicamento como uma substância que pode causar danos no futuro", afirmou.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Uso diário de aspirina não é para todo mundo, alerta estudo
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