domingo, 13 de novembro de 2016

Três vacinas contra zika são testadas em humanos; resultado deve levar anos.


Ao menos três vacinas contra o vírus da zika já estão sendo testadas em humanos. Os testes, de primeira fase, vão verificar se elas causam algum problema para as pessoas que a tomarem. Contudo, os pesquisadores alertam que a vacina deve levar anos para se provar eficiente e estar no mercado.

No início da semana, começou a ser aplicada em humanos uma vacina feita a partir do vírus inativado criada pelo Instituto de Pesquisas do Exército Walter Reed (WRAIR). Esse teste será realizado com 75 pessoas de 18 a 49 anos. Outra vacina de DNA, desenvolvida no NIH (National Institute of Health), é testada desde setembro em 80 voluntários, entre homens e mulheres, nos Estados Unidos.

Há ainda uma terceira vacina em teste clínico, a do laboratório norte-americano Inovio, que teve aprovação para os testes no fim de junho.

O vírus da zika está associado a lesões neurológicas em fetos e ao desenvolvimento de doenças como Guillain-Barré.

Desde 2015, 67 países tiveram o surto de zika, sendo que em pelo menos sete há uma crise endêmica. Até a semana passada, a organização somava 2.257 casos de microcefalia pelo mundo, sendo que 2.079 estavam no Brasil.

Os Estados Unidos, onde o vírus chegou mais tarde, já têm 28 crianças nascidas com microcefalia ou outras alterações neurológicas.

Bom desempenho em animais

Em março, a OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que havia mais de 60 grupos de cientistas pelo mundo trabalhando em pesquisas para desenvolver a vacina contra a zika.

Desde então, alguns grupos já testaram seus modelos de vacina em camundongos e, em uma fase posterior, em primatas.

Nesta quinta-feira (10), um estudo publicado na Nature mostrou que a vacina de DNA, criada pelo Instituto Wistar, na Filadélfia, foi capaz de produzir anticorpos e reduzir a mortalidade e a perda de peso em testes feitos com camundongos e com macacos rhesus.

As vacinas com DNA não têm o vírus completo, apenas a capa de proteínas, mas são capazes de estimular o corpo dos animais que as recebem a criar anticorpos contra o vírus da zika.
"Se der certo, pode ser a primeira vez que uma vacina de DNA seja aprovada no mundo", comenta Leda Castilho, pesquisadora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) envolvida na produção da vacina do NIH.

Vacina no mercado ainda deve demorar

As três vacinas que já estão em testes com humanos tiveram de provar, antes, que eram eficientes em evitar a infecção de macacos pelo vírus da zika.
"Nossa vacina está bastante avançada. Fizemos ao longo do primeiro semestre a construção gênica e os testes em animais. Mas precisamos saber se ela é segura e se ela é eficaz em humanos", explica Leda.
Contudo, os pesquisadores alertam que do desenvolvimento das pesquisas até a vacina se provar eficiente e estar pronta para o comércio o trajeto deve levar anos.
Caso a vacina se prove segura e seja aprovada na fase 1 do teste --o que se deve saber até o final do ano-- deverá ter início em 2017 os testes com voluntários de diversos países para checar se as pessoas desenvolvem anticorpos contra o zika. Essas pessoas deverão ser acompanhadas por cerca de dois anos e, provavelmente, terão de ser expostas ao vírus para checar a eficácia de sua proteção contra o contágio.
Depois disso, as vacinas ainda precisam ser aplicadas em uma mostra com mais voluntários –milhares—que devem ser acompanhados ao longo de cerca de três anos. 
Estamos falando de pelo menos cinco anos, se tudo der muito certo" Mauro Martins Teixeira, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Como comparação, Leda cita o exemplo da vacina de dengue aprovada pela Anvisa neste ano. "A vacina de dengue da Sanofi, por exemplo, levou 20 anos para ser desenvolvida e aprovada."