Uma revisão de 28 estudos mostra que a diferença de 15 mmHg ou mais
entre a pressão sistólica dos dois braços representa um risco 70% maior
de morte por doença cardíaca, como infarto. A pesquisa foi publicada na
revista médica "Lancet".
A pressão sistólica é a mais alta -em caso de valores normais, a
sistólica é 12 e a diastólica, oito. Uma diferença de 15 mmHg poderia
significar que, em um braço, a pressão seria de 12 e no outro, 13,5.
A diferença pode indicar doença vascular periférica (endurecimento ou
afunilamento das artérias das pernas e dos pés) e risco de doença
cardiovascular cerebral, que pode causar demência.
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Segundo Celso Amodeo, cardiologista especialista em hipertensão do HCor
(Hospital do Coração), pressões diferentes podem indicar um bloqueio em
um dos lados do corpo por causa de uma placa de gordura nos vasos.
A medida da pressão nos dois braços pode identificar pacientes com alto
risco de doença vascular sem sintomas, dizem os autores da revisão, da
Universidade de Exeter, no Reino Unido.
Eles afirmam que essa prática, preconizada pelas diretrizes dos EUA e do Reino Unido, não é seguida pela maioria dos médicos.
O mesmo acontece no Brasil, segundo os especialistas.
A diretriz no país diz que as medidas devem ser obtidas nos dois braços
e, se houver diferença de 20 mmHg, as causas devem ser investigadas, de
acordo com Weimar Barroso de Souza, presidente do departamento de
hipertensão arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
"O problema é que essa recomendação não é muito seguida. É importante
que estudos como esse venham à tona até para as pessoas cobrarem esse
tipo de cuidado."
Ele afirma, no entanto, que a medição "dupla" só é necessária na
primeira consulta. "Não é preciso fazer isso todas as vezes. Se você
conhece o paciente, já sabe que em tal braço a pressão é maior e é
aquele que você vai acompanhar", afirma.
Ele lembra ainda que sempre vai haver uma diferença entre a pressão dos dois braços, mas ela deve ser menor que 15 mmHg.
"Com o estudo ligando a diferença a um risco cardiovascular maior, a
recomendação de medir a pressão nos dois braços fica mais forte", afirma
Décio Mion, nefrologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Hipertensão.
TRATAMENTO
Em caso de diferença, o primeiro passo é identificar por que há essa
alteração. "Pode ser por causa do estreitamento dos vasos das pernas,
porque a pessoa já teve derrame ou infarto, por pressão alta não tratada
ou outros fatores de risco, como o tabagismo", afirma Mion.
Souza diz que os primeiros cuidados são a alteração desses fatores, como
mudar a alimentação e parar de fumar. Depois, o médico pode recorrer ao
tratamento adequado das doenças associadas que pioram o quadro, como
diabetes e colesterol alto.
Segundo Amodeo, medir a pressão nos dois braços faz parte da
investigação médica correta e deveria ser feita em todos os pacientes,
independentemente de idade e risco de doenças cardiovasculares.
Ele afirma que o médico deve apalpar os pulsos e, se houver uma
diferença notável, é provável que as pressões serão diferentes também.
Nesse caso, o ideal é que o médico meça também a pressão das pernas,
para não deixar passar uma obstrução de artéria nos membros inferiores.