terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aos 17 anos, chef nordestino cria pratos com cactos e cascas de alimentos.

Willian Dias/Divulgação e Divulgação
Mandacaru quando flora lá na serra vira cocada, salada e até pizza nas mãos do jovem Timóteo Domingos. Com apenas 17 anos, ele se especializou em transformar as plantas-símbolo da Caatinga em comida para restaurante nenhum botar defeito. 
Nascido no interior de Alagoas, Timóteo explica que aprendeu a cozinhar bem cedo. "Com sete anos de idade, comecei a ajudar minha avó na cozinha. Mas eu já trabalhava desde os seis, ajudando meus pais na roça em diversos tipos de serviço", diz o chef, que apresentou suas invenções  em uma aula durante o Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes (MG).
Aos oito anos, Timóteo já tinha duas receitas autorais: um brigadeiro feito com casca de melancia e um doce de umbu, fruta típica da região. Em seguida, veio o Cocactus, cocada que leva cactos em sua composição. "Comecei a perceber que aqueles ingredientes que eu via, como mandacaru ou xique-xique, podiam sim ser usados na culinária", explica. 
O problema era convencer as pessoas a comer o doce, já que cactos costumam ser usados para alimentar animais no sertão. "Comecei a vender cocadas e bolos na escola. Só que as pessoas tinham um preconceito muito grande com os ingredientes. Então eu testava as receitas só para mim".
Timóteo seguiu cozinhando, escondendo o verdadeiro ingrediente dos doces. "Muitas vezes não tinha coco suficiente para fazer as cocadas, daí colocava o cacto, já que a textura dos dois é a mesma. As pessoas perguntavam o que eu fazia para deixar a cocada tão cremosa, mas eu nunca falei o que ia no doce", conta. 
Gastronomia da Caatinga
Foi quando a família se mudou para Canindé de São Francisco (Sergipe) que a sorte do jovem cozinheiro, então com 15 anos, mudou para a melhor. O novo público foi mais receptivo aos pratos diferentes e itens como mousse de cacto, lasanha de quiabo, brigadeiro de goiaba com umbu e mandacaru e pizza com massa de palma, feitos em casa e vendidos na escola, lhe renderam o apelido de "Chef do Sertão". 

Após ganhar dois concursos de culinária no Sergipe em 2013, Timóteo foi convidado para estagiar em um restaurante de Maceió. Atualmente, ele está no primeiro semestre do curso de Gastronomia na Faculdade de Tecnologia de Alagoas, graças a uma bolsa de estudos. 
E as receitas não param de surgir. O chef acredita já ter criado mais de uma centena de pratos com cascas, raízes, folhas e sementes de plantas, além dos pratos com plantas típicas do sertão, batizado por ele como Gastrô Tinga, ou gastronomia da Caatinga. 
"Isso se baseia principalmente na sustentabilidade, mas não só isso. Não adianta você pensar só no meio ambiente e não ver o lado social. Aquilo que está sendo descartado como lixo pode sim alimentar alguém", explica o chef, que planeja publicar uma série de livros com suas receitas no futuro. 

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