"A gastrite é uma doença inflamatória que se caracteriza por
acometimento da camada de tecido mais superficial que reveste o estômago,
chamada de mucosa gástrica. Essa inflamação desenvolve-se como uma resposta
normal do organismo quando ocorre uma agressão à sua integridade. Entretanto,
essa resposta normal pode levar ao desenvolvimento de sinais e sintomas
característicos dessa doença. A agressão que desencadeia o processo pode ser
aguda ou crônica e, de acordo com seus tipos, podemos classificar as diversas
formas de gastrite."
O estômago é um órgão de extrema importância para o processo
de digestão dos alimentos. Nele, encontramos vários tipos de células com
diferentes funções. Algumas produzem enzimas que ajudam na quebra dos alimentos
e outras produzem ácido clorídrico, que é responsável pelo ambiente ácido
característico desse órgão. Normalmente, há produção de um muco que reveste
internamente a parede do estômago, protegendo as células da agressão pelo ácido.
A gastrite pode ser causada por diversos fatores diferentes.
• Helicobacter pylori: essa bactéria tem a capacidade de
viver dentro da camada de muco protetor do estômago. A prevalência da infecção
por esse microorganismo é extremamente alta, sendo adquirida comumente na
infância e permanecendo para o resto da vida a não ser que o indivíduo seja
tratado. A transmissão pode ocorrer por duas vias: oral-oral ou fecal-oral. A
gastrite não é causada pela bactéria em si, mas pelas substâncias que ela produz
e que agridem a mucosa gástrica, podendo levar a gastrite, úlcera péptica e, a
longo prazo, ao câncer de estômago.
• Aspirina: o uso de aspirina e de outros antiinflamatórios
não-esteróides podem causar gastrite porque levam à redução da proteção
gástrica. Importante ressaltar que esses medicamentos só levam a esses problemas
quando usados regularmente por um longo período. O uso de corticóide por longo
período também pode levar a gastrite.
• Álcool: pode levar à inflamação e dano gástrico quando
consumido em grandes quantidades e por longos períodos.
• Gastrite auto-imune: em situações normais, o nosso
organismo produz anticorpos para combater fatores agressores externos. Em
algumas situações, entretanto, pode haver produção de anticorpos contra as
próprias células do organismo, levando a vários tipos de doenças (por exemplo,
lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, diabetes mellitus tipo 1). Na
gastrite auto-imune, os anticorpos levam à destruição de células da parede do
estômago, reduzindo a produção de várias substâncias importantes. O câncer de
estômago também pode ocorrer a longo prazo.
• Outras infecções: a gastrite infecciosa pode ser causada
por outras bactérias que não o H. pylori, como por exemplo a bactéria da
tuberculose e a da sífilis; pode também ser causada por vírus, fungos e outros
parasitas.
• Formas incomuns: são causas mais raras. Temos as gastrites
linfocítica e eosinofílica; a gastrite granulomatosa isolada; e a gastrite
associada a outras doenças como a sarcoidose e a doença de Crohn.
• A gastrite aguda também pode ocorrer em pacientes
internados por longo período em unidades de tratamento intensivo, em pacientes
politraumatizados e em grandes queimados.
A gastrite pode ser completamente assintomática,
principalmente nos casos crônicos. Na fase aguda, os sintomas são mais
proeminentes. Comumente, os sintomas são:
• Desconforto na região superior do abdome: pode ser
representado por dor ou apenas um desconforto. Alguns pacientes podem relatar
dor em queimação; dor que melhora com a ingestão de alimentos.
• Náuseas e vômitos, geralmente acompanhando o desconforto.
• Saciedade precoce, ou seja, sensação de empachamento logo
após a alimentação. Esse sintoma pode levar à redução e perda de apetite.
• Se a gastrite levar à formação de úlceras gástricas
hemorrágicas, pode haver eliminação de sangue digerido, nas fezes (que ficam
escuras) ou nos vômitos.
O médico suspeita de gastrite quando o paciente relata a
presença dos sintomas listados anteriormente. O médico investiga os hábitos
alimentares do paciente, uso de medicamentos, consumo de bebidas alcoólicas, se
o paciente tem outras doenças já diagnosticadas. A partir daí, exames
complementares podem ou não ser realizados.
Importante ressaltar que o diagnóstico de gastrite só pode
ser firmado pela endoscopia digestiva alta, quando o médico visualiza a mucosa
gástrica lesada e colhe fragmentos (biópsia) para exame citológico. Caso não
seja realizada a endoscopia, o diagnóstico mais correto é o que chamamos de
Dispepsia, que pode ser funcional ou não.
Se a causa da gastrite for evidente já na história, como por
exemplo, o uso de antiinflamatórios, o médico já indica o tratamento adequado.
No caso do H. pylori, a identificação da infecção pode ser feita no
material obtido pela biópsia, à endoscopia, através de um teste respiratório ou
exame de sangue. Se o paciente for portador dessa bactéria, o médico decidirá
sobre a erradicação ou não da infecção, com base no quadro clínico do paciente.
O tratamento da gastrite é direcionado pela causa.
Entretanto, alguns medicamentos são utilizados para a melhora dos sintomas
enquanto se trata a causa específica. O paciente deve evitar o uso de
medicamentos como a aspirina e outros antiinflamatórios não-esteróides, bebidas
alcoólicas e cigarro.
O tratamento da infecção pelo H. pylori pode ser
bastante difícil em alguns pacientes, e não é raro que ocorra a reinfecção. Esse
tratamento não é indicado de rotina em todos os pacientes, sendo reservado para
aqueles que apresentam úlcera péptica ou linfoma gástrico. Neles, o tratamento é
realizado com antibióticos, medicamentos que reduzem a secreção de ácido pelo
estômago e também com agentes protetores da mucosa gástrica.
Na gastrite induzida por medicamentos, geralmente a suspensão
do agente suspeito leva à resolução do quadro. Associado a isso utiliza-se
medicamentos para melhora sintomática. Em alguns tipos de gastrite pode ser
necessário o uso de corticóide, para conter o processo inflamatório e prevenir
complicações.
Nos pacientes hospitalizados, em unidade de tratamento
intensivo, politraumatizados e grandes queimados, o desenvolvimento de gastrite
aguda pode ser dramático. Por isso, neles, é feita a prevenção do
desenvolvimento da doença, com o uso de medicamentos que reduzem a produção de
ácido, pelo estômago.
Os medicamentos utilizados para melhora sintomática podem
atuar melhorando o esvaziamento gástrico ou reduzindo a secreção de ácido. Os
que melhoram o esvaziamento gástrico são os chamados pró-cinéticos, que reduzem
a estase alimentar no estômago e auxiliam na digestão, como por exemplo, a
metoclopramida e a bromoprida. A redução da secreção de ácido é eficiente para
combater a dor e a azia, e pode ser feita com medicamentos de dois grupos:
• Antagonistas de receptores H2: cimetidina,
ranitidina. São também usados para a prevenção da gastrite aguda nos pacientes
hospitalizados.
• Inibidores da bomba de prótons: omeprazol, lansoprazol,
pantoprazol.
Outros medicamentos que podem ser usados, eventualmente, são
os protetores da mucosa gástrica, como o sucralfato, por exemplo.
• Comer em pequenas quantidades e várias vezes ao dia,
evitando ficar sem alimentação por mais de 3 horas seguidas.
• Alimentar-se com calma, mastigando bem os alimentos, o que
facilita o esvaziamento gástrico e a digestão.
• Evitar os famosos "fast-foods".
• Consumir bebidas alcoólicas com moderação, se possível
evitar o consumo.
• Não há motivo para restrição dietética, mas se possível
devem-se evitar ou reduzir a ingestão de alimentos muito gordurosos, frituras,
doces concentrados, comidas muito condimentadas. Preferir refeições mais leves,
de mais fácil digestão.
• O consumo de café e outras bebidas que contém cafeína não é
contra-indicado se o paciente tolera bem essas bebidas.
• Outra questão importante é o cuidado com a higiene pessoal
e dos alimentos, para reduzir a transmissão de agentes infecciosos.
fonte:uol
Nenhum comentário:
Postar um comentário