Após lutar contra a doença por quase dois anos com quimioterapia e sofrer duas recaídas, a jovem "tinha diante de si uma perspectiva sombria", relataram médicos do Hospital Infantil da Filadélfia. Em fevereiro deste ano, eles concordaram em colocá-la em um programa experimental que combate fogo com fogo.
Auxiliados por um vírus do HIV geneticamente alterado - desprovido das propriedades devastadoras que causam a Aids -, os médicos transformaram as células imunológicas da menina em uma força superior capaz de aniquilar a leucemia "agressiva".
O tratamento aplicado a Emily Whitehead foi um dos primeiros deste tipo e não pode ainda ser considerado "uma bala de prata", alertou o hospital. Mas, no caso de Emily, aparentemente funcionou.
Primeiramente, milhões de células do sistema imunológico da menina foram removidas. Em seguida, o vírus do HIV modificado foi usado para carregar um novo gene que deu força às células imunológicas e ajudou-as a detectar, e então atacar as células cancerosas que tinham conseguido anteriormente se esgueirar do radar, informou o hospital em seu site na internet.
Por fim, as células imunológicas foram enviadas de volta a seu trabalho. Os cientistas criaram um míssil teleguiado que prende e mata as células B, atacando consequentemente a leucemia de célula B", acrescentou o hospital.
O oncologista pediátrico Stephan Grupp, que cuidou da menina, explicou nesta terça-feira (11) que não houve qualquer risco de contaminação por Aids durante o procedimento.
"A forma como colocamos o novo gene nas células T (células imunológicas) é usando o vírus. Este vírus foi desenvolvido a partir do vírus HIV, no entanto todas as partes do vírus HIV que podem causar a doença são removidas", afirmou por e-mail. "É impossível pegar HIV ou qualquer outra infecção. O que fica é a capacidade do vírus HIV que lhe permite colocar novos genes nas células", acrescentou.
Durante o tratamento, Emily ficou muito doente e foi internada em uma unidade de tratamento intensivo, evidenciando os riscos do procedimento. No entanto, drogas que bloqueiam parcialmente a reação imunológica foram administradas, sem interferir com a ação anti-leucemia, e ela se recuperou, continuou o hospital.
O resultado foi "completo" e o melhor de tudo, dizem os médicos, o escudo imunológico implementado continua "a permanecer no corpo do paciente para protegê-lo de uma recorrência do câncer".
"Ela não tem leucemia em seu corpo segundo qualquer exame que possamos fazer, até mesmo os mais sensíveis", disse Grupp à emissora ABC. "Precisamos ver que a remissão avance por dois anos antes que pensemos que está curada ou não. É muito cedo para afirmar isto", destacou.
No site do Hospital Infantil da Filadélfia, Grupp afirmou que as terapias celulares podem eventualmente substituir o caro e doloroso transplante de medula, um último recurso que costuma ser usado para combater o câncer.
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