Produtos têm teor de sódio diferente das embalagens
"O número é significativo e mostra a necessidade de se ampliar a fiscalização. Se ocorre com sódio, pode ocorrer também com outros componentes do produto", avalia a nutricionista do Idec, Ana Paula Bortoletto. Entre março e abril, foram enviados para análise 291 produtos, de 90 marcas.
Do total, 27 apresentaram valores diferentes do informado na embalagem - dez tiveram variação do nutriente superior aos 20% permitidos pela legislação brasileira; e em 17, a concentração identificada no teste foi menor do que a estampada na tabela.
"Valores menores que o informado podem até ser considerados como um fator positivo para saúde. Mas esse é um sinal de descontrole e, principalmente, fere o direito do consumidor de ter acesso à informação correta", assegura Ana Paula.
Em alguns produtos analisados, a diferença é muito significativa. Sete deles apresentaram uma variação da quantidade de sódio superior a 40% daquela informada no rótulo. A análise da salsicha viena Frigor Hans, por exemplo, identificou uma quantidade do nutriente 66,3% maior do que a que havia sido informada no rótulo.
A Organização Mundial da Saúde recomenda ingestão de, no máximo, 6 gramas diárias do nutriente - o equivalente a 2,4 gramas de sódio. "O brasileiro consome o dobro", diz Povoa. "E boa parte dessa ingestão é proveniente de produtos industrializados", completa.
O ideal, assegura, é fazer uma dieta com frutas, verduras, carnes magras e poucos alimentos industrializados. "Como o sódio é conservante, ele muitas vezes é usado em produtos que nem imaginamos. Não adianta só fugir de comidas consideradas salgadas. Muitas vezes produtos com sabor adocicado têm teor significativo do nutriente", completou.
Variação
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que embalagens de produtos alimentícios tragam a tabela nutricional. Ela permite, no entanto, uma variação de 20% a mais ou para menos nas informações da rotulagem. Essa flexibilidade é adotada para compensar eventuais diferenças nos métodos usados para fazer a análise do conteúdo nutricional, para reduzir o impacto provocado por questões climáticas, armazenamento e tempo de vida do produto."Não é necessária tamanha margem", critica a nutricionista do Idec. "Essa permissão feita pelo Brasil não ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos. Eles não permitem a tolerância nos valores." A gerente de produtos especiais da Anvisa, Antônia Aquino, afirma não haver nenhuma indicação de mudança na tolerância desse porcentual.
A agência tem um programa para monitorar a quantidade de sódio de diversas categorias de alimentos. Quando diferenças são encontradas, afirma Aquino, empresas são notificadas para corrigir as embalagens. De acordo com ela, a Anvisa não recebeu formalmente os resultados do trabalho feito pelo Idec. Mesmo assim, a agência poderá solicitar uma fiscalização para verificar tais incorreções e tomar ações necessárias.
Fabricantes rebaltem
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), Edmundo Klotz, criticou a pesquisa feita pelo Instituto de Defesa do Consumidor. Ele classificou como "muita pretensão" tentar verificar a qualidade a partir da análise de uma amostra de 291 produtos. "O setor tem 32 mil empresas", argumentou.A Aurora teve reação diferente. Diante dos resultados obtidos pela mortadela produzida pela empresa na pesquisa do Idec, a Aurora decidiu coletar amostras do produto e fazer nova avaliação. "Confirmado o desvio, a empresa poderá proceder as correções necessárias na tabela de valor nutricional com maior brevidade possível", informou, por meio de nota.
Procurada pelo Estado, a Pandurata, fabricante dos produtos Bauducco, informou não ter detalhes sobre a metodologia usada na pesquisa do Idec e assegurou fazer análises regulares conforme a categoria do produto. A empresa Ceratti apresentou resposta semelhante: disse seguir rigorosos controles de qualidade e cumprir disposições legais.
A Unilever, fabricante da Becel, informou que os valores da tabela nutricional são obtidos por meio de cálculos teóricos contidos em base de dados. O JBS Foods observou, em nota, que o Idec analisou 11 produtos do grupo. Do total, três apresentaram variações entre rotulagem e resultado dos testes. Algo que para a empresa pode ter sido provocado pela de variação da leitura em diferentes tipos de metodologias.
O Arcor, fabricante da bolacha Triunfo, assegurou cumprir integralmente as normas. A Qualitá, por sua vez, avalia que os resultados do pão de forma produzido pela empresa estão no limite das regras da Anvisa (tolerância de 20%). Os resultados referentes à bisnaguinha foram superiores. A empresa disse ter enviado para o Idec uma análise com todos os controles realizados em laboratórios credenciados pelos órgãos reguladores, atentando a concordância dos valores nutricionais com a legislação.
A BRF, empresa responsável pela produção das marcas Batavo e Elegê, informou desconhecer detalhes sobre produtos analisados na pesquisa do Idec, como lote, data de fabricação, algo que impossibilita a rastreabilidade e análise dos produtos. A BFR informou ainda que testes periódicos são feitos em produtos da marca Sadia.
A Selmi, fabricante da mistura para bolo Renata, afirmou que os valores correspondem ao produto exposto à venda, seco. E o correto, afirma, seria avaliar os parâmetros do produto pronto para consumo: preparado e assado. As empresas Bimbo e Kim informaram cumprir as normas e desconhecem qualquer desvio de padrão na produção. O Estado não conseguiu contato com Frigor Hans. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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