O governo federal anunciou nesta quinta-feira (22) uma série de medidas
para tentar estimular a economia brasileira. Dez milhões e duzentos mil
trabalhadores vão poder sacar todo o dinheiro que estava bloqueado em
contas inativas do FGTS. O total de saques pode chegar a R$ 30 bilhões.
A medida foi anunciada pelo presidente Michel Temer
durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. O
objetivo do governo é injetar R$ 30 bilhões na economia brasileira. O
trabalhador poderá sacar o dinheiro das contas inativas do Fundo de
Garantia e usar da forma que quiser.
“O momento que nós vivemos na economia demanda a adoção de medidas que
permitam, ainda que de forma parcial, uma recomposição da renda do
trabalhador e, portanto, estamos permitindo que os trabalhadores
detentores dessas contas, até 31 de dezembro de 2015, possam dispor de
um recurso que em condições normais não estaria ao seu alcance”, disse o
presidente.
O governo garante que a medida não traz risco para os setores que usam o
dinheiro do FGTS, como habitação, mobilidade urbana e saneamento. “É
uma injeção de recursos que vai mobilizar, vai movimentar a economia e
equivale, pelos cálculos do Planejamento, a cerca de 0,5% do PIB”, disse
Temer.
Até agora, o trabalhador que tinha pedido demissão de um emprego podia
sacar o dinheiro do Fundo de Garantia três anos depois sem nenhum outro
emprego com carteira assinada. Esse prazo não vai existir mais para quem
pediu demissão até 31 de dezembro de 2015.
Agora, esse trabalhador vai poder sacar o FGTS mesmo que já esteja
formalmente empregado de novo. Mas atenção: o trabalhador não vai poder
sacar o FTGS de uma conta ativa, ou seja, com dinheiro depositado pelo
empregador atual. Também não tem direito ao benefício quem pediu
demissão em 2016.
Não haverá limite de saque das contas inativas e o valor integral
poderá ser retirado. A maior parte das contas inativas do país (86%) tem
cerca de um salário mínimo de saldo.
Há várias maneiras de descobrir quais são as contas inativas e o saldo
de cada uma delas. É possível baixar o aplicativo do FGTS da Caixa em
qualquer smartphone. Depois de instalar, é preciso informar o NIS/PIS,
que é o número de inscrição social. Você pode pegar esse número na
carteira de trabalho, no extrato do FGTS ou no Cartão do Cidadão.
O analista de negócios Felipe Lima Silva correu para o aplicativo para checar quanto vai pode tirar.
JN: Você sabe quantas contas inativas você tem?
Felipe: Quatro, consultei hoje.
JN: Tem um valor razoável lá para tirar?
Felipe: Sim. Tem.
JN: E o que você vai fazer?
Felipe: Pagar conta.
Também dá para acessar o extrato do FGTS com o Cartão do Cidadão e no
site da Caixa. É preciso ter o número do PIS e cadastrar uma senha. Quem
tiver dúvida, pode ligar de graça para o 0800 da Caixa (0800 726 0207).
Mas, no dia em que a medida foi anunciada, o telefone, o site e o
aplicativo ficaram sobrecarregados. Muita gente não conseguiu acesso. A
Caixa reconhece que houve instabilidade no sistema nesta quinta por
conta da grande demanda. Disse que os problemas já foram corrigidos e
que as equipes estão em alerta caso seja necessário.
De modo geral, os economistas ouvidos pelo Jornal Nacional aprovaram a
atitude do governo, porque o trabalhador vai poder ter acesso a um
dinheiro que é dele e que está preso em contas que rendem muito pouco.
“Achei muito boa, porque quem perde no Fundo de Garantia é o dono do
dinheiro, é o trabalhador. Quando ele recebe os depósitos todo mês, o
rendimento que o Fundo de Garantia proporciona é ridículo. Ele é menor
do que a poupança, que já é um rendimento pequeno. Então, é uma medida
boa. Nesse momento de aperto geral, qualquer assopro já é um alívio”,
explicou o professor de economia da Universidade de São Paulo Hélio
Zylberstajn.
E que alívio. A emprega doméstica Marisa dos Santos que o diga:
“dívidas para pagar. Está meio acumulada, estourou um pouquinho, mas se
Deus quiser vai dar tudo certo.”
O professor de Finanças do Insper Ricardo Humberto Rocha recomenda a
retirada do saldo das contas inativas porque o rendimento é muito baixo
no FGTS.
“Eu diria que as pessoas obrigatoriamente devem retirar esse dinheiro.
Essa é uma oportunidade em função da crise. Porque qualquer aplicação
financeira, mesmo a boa e velha caderneta de poupança, rende muito mais
do que o FGTS”, explicou.
“Vou aplicar em outro lugar. Fazer qualquer coisa, mas que renda alguns
juros, que eu possa aproveitar mais esse dinheiro”, disse o estagiário
contábil Lairton da Silva Maurício.
Mas não adianta correr para o banco para sacar agora. “Nós divulgaremos
um calendário a depender da data de nascimento das pessoas. Esse
calendário será divulgado até o início de fevereiro, de modo que não há
necessidade de as pessoas atropeladamente correrem à Caixa para essa
retirada”, disse o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira.